RSS

Pages

Partners in Crime

A primeira vez que o viu, nem reparou direito, a única coisa que passou pela cabeça dela era que ele decididamente estava equivocado. Tava (literalmente) na cara que ele estava equivocado.

Nas vezes seguintes ela mal olhava pra ele. Se encontravam com certa frequência, embora nem tanto assim. Trabalhavam no mesmo lugar, tinham um amigo em comum, às vezes acontecia de almoçarem juntos. Ele era gente boa, mas continuava equivocado, tadinho. Não que ela se importasse com isso. Não era nem problema dela.

Aí um dia ela estava almoçando. Chegou o amigo, e em seguida chegou ele. Pediram licença, sentaram na mesma mesa. Ele sentou do lado dela. Foi quando ela reparou que ele tinha olhos bonitos. Barba bem feita, coisa de quem tem cuidado consigo mesmo. E quando ele riu dela (ele riu o almoço inteiro, mas não era pra ela, era dela mesmo), ela viu que ele tinha um sorriso lindo. E foi quando o equívoco dele começou a incomodar.

Ligou pra amiga. Aquela amiga sempre apoiava incondicionalmente as ideias e planos dela. Discutiram a melhor forma de lidar com o problema. Arma biológica? Não, arriscado demais, poderia criar um problema sério pra ela. Uma outra ideia, mais, digamos, grudenta, surgiu. Mas também era arriscada, ela queria ser sutil. E foi aí que decidiram.

Ele trabalhava no andar de baixo, ela sabia onde. Foram lá em um horário em que tudo estava deserto. As duas de roupa preta, meia (não podiam se arriscar a fazer barulho!), touca ninja cobrindo o rosto. Lá não tinha câmeras, mas melhor não arriscar. Fora que elas queriam sentir a emoção da missão. Chegaram na porta da sala dele. E agora? Ela estava perdendo a coragem. A amiga não pensou duas vezes, se encheu de coragem, tomou aquilo da mão dela, enfiou debaixo da porta. Missão cumprida.

Saíram de lá e foram comemorar o sucesso da missão. Entre uma taça e outra de vinho, torciam pras consequências serem as esperadas. Riam e imaginavam a hora que ele abriria a porta, pegasse o bilhete e lesse:

CORTA O CABELO, SEU LINDO!!!!

Bem melhor que soltar piolho nele. Ou colar chiclete. Se ele ia aceitar a sugestão, não sei. Mas elas tinham se divertido muito. Mais uma vez eram partners in crime... =)

(Ex-) Preferida

- Sabe quem tá falando?
E imaginando que ele não fosse saber, completou logo em seguida:
- Sou eu, sua ex-preferida...
- Claro que sei, e posso saber pq ex-preferida?
- Porque eu sumi, né... Faz tempo que a gente não se fala... Não mereço mais esse título... [risos]
- Você sabe que ainda é, sempre vai ser a preferida.
- Ahh que lindo... Estou te ligando pra saber de você, fiquei sabendo umas coisas...
- É, as coisas andaram meio complicadas. Fiquei sabendo que você ia ligar, que bom ouvir sua voz...
Ela pensou em um segundo tudo que queria perguntar, saber, falar. Mas engasgou. Só conseguiu dizer:
- Queria te dar um abraço. Posso ir aí amanhã?
- Claro, vou adorar seu abraço, tou com saudades.
Ela foi. Eles se abraçaram. Conversaram. Sorriram. E no fundo os dois sabem que o próximo abraço não tem data pra acontecer. Mas ele garante que ela ainda assim vai ser sempre a preferida.

O Bailinho

Além de ser a mais inteligente das meninas, ela era corajosa. Aliás, mais que corajosa, ela era atrevida. Pequenininha (era a segunda da fila por ordem de tamanho, fazer o quê), ela não afrontava ninguém, mas ai de quem mexesse com ela. Atrevida. E corajosa.

Ele era o mais inteligente da turma. Era o único mais inteligente que ela. Só que ao contrário dela, ele era muito tímido. Quase não falava, tinha poucos amigos, entre eles, ela. Ela gostava de gente inteligente. Ele também, e com ela, ele conversava.

Estudaram juntos mais de um ano, aí chegou a festinha de formatura. Era só pros formandos e pra professora. Tinha salgadinho e guaraná. Meninos levam refri, meninas levam salgadinho, era como funcionava. E tinha música. As meninas dançavam o tempo inteiro. Umas com as outras ou com a professora. Já os meninos, estes tinham que esperar a professora dançar com eles. Imagina, pagar o mico de dançar com menina e ser zuado pra sempre? Melhor entrar na fila pra dançar com a professora.

Só que ele quis dançar. Tinha fila pra dançar com a professora. Ele venceu a timidez e a chamou pra dançar. Morrendo de vergonha, mas chamou. Afinal, ela era sua amiga. E ela aceitou. Dançaram uma música em meio aos risinhos abafados e dedos apontando. Ele ficou vermelho. Já ela, ficou mais atrevida.

"Vocês deviam era fazer a mesma coisa ao invés de morrer de inveja". 

Silêncio. A professora concordou. E aí o bailinho começou de verdade, meninos e meninas dançando juntos e se divertindo. E claro, um ou outro bobo no cantinho rindo e apontando o dedo. Sempre tem.